"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou serei o teu?"
Clarice Lispector



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012



Fanatismo


Florbela Espanca


Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah!  Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."


Em quatro versos descreve todo o sofrimento de uma alma apaixonada. Onde a dor da sua cegueira é ver e a razão da sua vida deixou de ser o seu grande amor, pois ele simplesmente passou a ser a sua vida.
Diante da sua cegueira, Florbela não teve outra opção e fez do seu amor, o seu livro de cabeceira. Aquele livro cheio de mistérios. Aquele livro que você retorna várias vezes às páginas para poder entender. E depois que você termina continua o mistério. De livro misterioso entendo eu.
Querendo amenizar a sua dor, Florbela sempre escuta: que tudo passa, que tudo é frágil...

Vivendo de rastros diante da sua cegueira, a graça de uma boca divina não permite que Florbela pense que tudo passa, e lhe diz baixinho, deixe o mundo acabar, deixe o sol e lua se apagarem porque seu amor é um Deus. 

É assim mesmo, a cegueira do amor é indiscutível.

Mourita
bjs

Nenhum comentário:

Postar um comentário