"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou serei o teu?"
Clarice Lispector
DUAS LÁGRIMAS
Dos olhos de um homem
Uma lágrima eu vi rolar
-Por que choras? Perguntei
Parece que trazes contigo todas as dores
Do mundo, tamanho é o teu pesar
- Porque choras me perguntas? Por que padeço assim?
Porque todas as dores do mundo caem sobre mim
Eu sou o esteio da vida, sou o amparo e a guarida
Sou a paz a liberdade, sou um grito na garganta
Sou o sol e a planta, sou o caminho e a verdade
Sou a árvore e a raiz, sou os lábios de quem diz uma prece em fervor
Sou a relva e o orvalho, sou a cruz e o calvário
Sou a bondade e o amor, sou o passado e o presente
Sou o senhor de muita gente e de outras sou irmão
Sou amigo e companheiro, sou o descanso do guerreiro e do justo o coração
Sou o vento e a tempestade, sou o pai da humanidade
Sou o carinho e o perdão, sou a noite, sou o dia
Sou onde tudo principia, sou de Deus a criação
Eu sou a natureza, sou o quadro e o pintor De tudo faço parte, em tudo estou
-Diz-me, então, meu bom amigo, com verdade com franqueza
Se de tudo fazes parte e se é tua essa beleza
Por que então trazes na alma esta infinita tristeza?
-De tudo faço parte, pode crer no que te digo
Mas é verdade também que nem todos fazem parte comigo
E ao dizer estas palavras, com ternura me olhou
E dos seus olhos triste, outra lágrima rolou.
Autora: Fátima Hauck
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